Filme de Ficalho

sábado, 4 de setembro de 2010

Foi numa deambulação, pelas minhas memórias sentada numa mesa dum café e alcançando com o olhar o Sr. Bento do "Forno", como é conhecido em Ficalho, que pela rua se atrevia a passar, que eu resolvi entrevistá-lo, a ele e à sua esposa. Eram os forneiros que tinham cozido o pão e que, durante tantos anos, adocicaram os nossos paladares: o da minha família e o de muitas outras!

1.PENEIRAR
Tac! Tac! Tac! Tac!
Era o ruído da peneira a bambolear para trás e para a frente, a separar os farelos da farinha. De lenço branco na cabeça e avental branco lá estava eu, com 10 anos aproximadamente a ajudar na azáfama dos preparativos para confeccionar o pão, a que chamamos hoje de "pão caseiro".

2.AMASSAR

Segundo a minha avó era necessário aprendermos a fazer de tudo um pouco. Amassava-se uma vez por semana, pois a família era grande e o pão era um dos principais produtos alimentícios. Recordo bem aquele alguidar de barro grande onde depois de peneirar, eu assistia ao amassado com pujança, feito pela minha avó. Nesta parte ela não deixava ajudar...
Passava-se à benzedura e a massa era coberta por um pano branco chamado panal. No bordo do alguidar deixava-se um beliscão de massa(o qual ia informar quando a massa já está pronta para tender) e ficava a fintar (levedar).

3.TENDER

Enquanto se deitava a última lenha para dentro do forno e este aquecia, a forneira ia tendendo o pão, dividindo a massa em bocados que, já dentro do tabuleiro, adquiria a forma de pão.

4. COZER

Polvilhava-se com farinha e colocava-se na pá de madeira e imediatamente "deitava-se" o pão para dentro do forno.

Passado algum tempo... já cheirava a pão quentinho! Lembro-me com um pouco de água na boca, quando o pão chegava às nossas casas, já esfregavamos as mãos, à espera que a nossa mãe nos preparasse uma fatia untada com azeite e polvilhada com açúcar.

Seguem-se os vídeos que testemunham o trabalho do Sr. Bento Nogueira Estradas e da Sr.ª Ana Marta Valente durante anos. Esta entrevista foi gravada, no dia 16 de Julho de 2010, na minha casa, divisão onde se encontra um forno tradicional, onde os utensílios são velharias que eram da minha avó, da avó do meu marido e outras que eu já adquiri para decorar este espaço...os utensílios do vídeo que se segue foram construídos pelo Sr. Bento, quando eu me casei.




Em Ficalho, e por todo país antigamente o pão era feito nos fornos comunitários e era consumido de uma a duas semanas. Havia um forneiro que aquecia o forno, tratava da lenha, deitava o pão e cuidava dele durante a cozedura. O forneiro ficava com um pão como pagamento pelo seu trabalho ("poia" era o nome deste pagamento) ou estipulava um x por pão . Por dia coziam várias pessoas e cada uma marcava a sua vez junto do forneiro.
Agradeço a este casal, a boa vontade e a paciência que tiveram na concretização desta entrevista, em meu nome e em nome de todos aqueles que se interessam por um legado que não se perde na memória mas, que engrandece o património e a cultura de um povo.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010